28.12.08

COMO ME TORNEI ALCOÓLATRA

Pedro da Selva

Eu era ainda um bebezinho... Acompanhava meus pais nos barzinhos da cidade. Bebiam “socialmente”. Eu apenas os via saboreando a bebida de cada dia. Às vezes molhavam minha chupeta... Sentia o amargo da cevada. Fazia cara feia. Eles sorriam. Achavam engraçadinho.

Participava mais dos prazeres da vida agora. Festinhas: aniversários, casamentos, natal, final de ano... Ah! Podia provar um pouquinho mais das maravilhas do mundo. Bebíamos juntos. Meu pai, minha mãe, tios e avó. Todos ao redor da mesa. Comemoração de algum momento de felicidade. Uma namorada linda a meu lado! Muitos sonhos!

E o tempo foi passando. Eu me sentia bem diante de um copo de cerveja. Programávamos outras festinhas. Vez por outra embebedávamos. Sem problema. Era só naquelas ocasiões.

Comecei então a sentir falta de um golezinho. Tornou-se sagrada uma bebidinha diária. Se não podia comprar cerveja, ia pinga mesmo. Alguns goles apenas. E eles foram aumentando gradativamente. Já bebia bastante todo dia. Chamaram-me de viciado certa vez. Absurdo! Esbravejei.

Era a mais pura realidade! E eu tentava esconder. Quase não comia. Trabalhar? De jeito nenhum. Passei a não obedecer a meus pais, a ninguém. Muitos problemas com a polícia. Saí de casa. Na rua reencontrei os amigos na liberdade do mundo.

Hoje vivo na rua. Durmo em qualquer calçada. De vez em quando como alguma coisa. Lembro-me bastante de “meus amigos”, de minha mãe, de meu pai, de meus tios, de minha avó, da belíssima Andreia... Todos me ajudaram afundar nesse lamaçal profundo... Não tenho mais chupeta... família... amigos... Não tenho sonhos... e não tem mais volta.

4 comentários:

Anônimo disse...

Esse foi de tirar o fôlego! Como a gente não pensa nesse início que pode ser a razão de tudo. Esse vou copiar e levar para meus amigos.

Pedro Lopes de Almeida
Salvador - Bahia

Anônimo disse...

Esse texto é belíssimo. Estou levando ele para mostrar na m inha comunidade. A realidade aqui é incrível. Parabéns!

Maria de Fátima Guimarães
Betim - MG

Anônimo disse...

Verdade absoluta, mas as pessoas não sabem disso.

Elisa Carla de Freitas
Olinda / PE

Carlos Henrique Costa disse...

Verdade absoluta. É dessa forma que se começa a beber e quando assusta não tem como sair.

Carlos Henrique Costa
Goânia - Góias