16.12.08

AMIZADE... PERSISTÊNCIA... AMOR

Pedro da Selva

Mardinilson, 40 anos presumíveis, casado, pai de dois maravilhosos filhos, vive na simplicidade, como muitos trabalhadores brasileiros. Sustenta a casa com apoio, dedicação e economia da esposa Andernícia. Família pobre, simples e muito feliz. Carinho e alegria superam as dificuldades do dia-a-dia.
Gradativamente, a história daquele lar vai-se modificando. Uma cervejinha num dia, uma cachacinha noutro... O vício vai dominando aquele robusto corpo. O trabalhador envereda pelos destruidores caminhos do álcool. Perde-se na vida. Em pouco tempo, transforma-se. Cresce-lhe a barba. Já não toma banho. Bebe... xinga... briga... As coisas pioram a cada dia. Quebradeira... espancamento... Aquele lar torna-se verdadeiro inferno! Sempre bêbado, o irresponsável passa a morar na rua, de favores. Melhor assim. Vive pelas sarjetas do mundo.

Difícil a vida da família agora! Falta-lhes quase tudo: feijão, leite, pão, carinho... Andernícia procura médicos, psicólogos, pais-de-santo. Em vão. Advanilce e Crístocley já têm até vergonha do próprio pai.

Chuva intensa. Dois jovens pela rua. Um monte de lixo na enxurrada. Resolvem averiguar aquilo. Lixo? Aqueles dois corações entram em ação. Lixo não! Tentam reanimar um corpo inerte. Pouco a pouco o monte de lixo toma forma. Um homem! Meu Deus! Ouve-se um pedido de ajuda.

Eles o levantam. Tentam conversar. Impossível. O homem agora um pouco melhor. Levá-lo para casa? Ele não aceita. Os moços não desistem, porém. Persistência e determinação, marcante característica daquelas almas, levam aquele trapo humano para um abrigo. Cuidam. Conversam.

Vão aos Alcoólicos Anônimos. Palestras e testemunhos. Frequentam também uma igreja. Palavras confortam a alma. Sempre a seu lado um dos amigos. Cata papelão, latinha e outras coisas valorosas pela rua. Trabalho honesto. Junta até um dinheirinho.

Sempre calado. Nos olhos, agonia constante. Quase explodindo, abre-se com os amigos. O pensamento daquele homem embaralha-se em três rostos. Prazer, dor e vergonha se misturam.

Longe a mesma casinha branca... o portão... árvores na porta. Vai chegando... O coração dispara. Como pressentindo aquele momento, brotam do interior da casa três brilhantes. Sem qualquer ressentimento abraçam-se marido, esposa e filho. Pouco mais distante... de duas pérolas verdes, uma lágrima. Advanilce cai também nos braços do pai. Profundo Sentimento une aqueles corações para a eternidade.

Os dois amigos, a Igreja, e os Alcoólicos Anônimos tornam-se inseparáveis daquela família, unida pela grandiosidade e pureza de corações.

2 comentários:

Anônimo disse...

Que coisa maravilhosa! Um texto desse até anima agente a trabalhar mais. Sei que fazemos muito pouco pelas pessoas, mas se levantarmos um só dessa lama que naufragaram jé estamos fazendo nossa parte.

Maria de Fátima Guimarães
Betim - MG

Anônimo disse...

Na verdade o amor supera qualquer obstáculo.

Elisa Carla de Freitas
Olinda / PE